61º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia da Febrasgo – CBGO 2023

Dados do Trabalho


TÍTULO

MORTALIDADE MATERNA DE INDÍGENAS NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO BANCO DE DADOS NACIONAL

OBJETIVO

Avaliar a mortalidade materna (MM) na população indígena do Brasil entre 2017 e 2022, conforme idade materna e as causas mais prevalentes.

MÉTODOS

Foram analisados os dados públicos disponíveis em dois sistemas do Ministério da Saúde, Painel de Monitoramento de Morte Materna (MM) e de Nascidos Vivos (NV), no período de 2017 a 2022. As razões de MM (RMM), a partir da quantidade de MM e NV, expressos para cada 100.000 NV, foram calculadas para cada ano e em todo o período avaliado. Os dados foram categorizados segundo a cor de pele em Indígenas e não-indígenas (branca, preta, parda, amarela e ignorada), idade materna (0-19, 20-29, 30-39, 40+) e causas (indiretas e diretas: hipertensão, hemorragia, infecção e aborto). A prevalência de MM foi comparada entre mulheres indígenas e as demais (não-indígenas), sendo obtidas as razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança de95%), com o uso do programa EpiInfo 7.0.

RESULTADOS

No período avaliado, ocorreram 236 MM de mulheres indígenas e 156099 NV. A razão de MM entre mulheres indígenas foi de 105.9, enquanto na população não-indígena foi de 67.1, sendo significativamente maior entre as indígenas (RP 1.58 IC-95%:1.35-1.84). Em relação à idade materna, a RMM foi maior entre as mulheres indígenas, em comparação às não-indígenas nas faixas etárias dos 0-19 anos (91.3 vs 45.9 RP:1.99 IC:1.46-2.72), 30-39 anos (200.5 vs 87.8 RP:2.28 IC:1.75-2.97), e 40 anos ou mais (459.4 vs 182.0 RP:2.52 IC:1.60-3.98). A RMM por causas diretas foi maior entre as mulheres indígenas (73,0 vs 37,2 RP 1,96 IC:1.63-2.36). A principal causa de MM entre as mulheres indígenas foi hemorragia, com a maior RMM específica (21,1 vs 7,1 RP 2,98 IC 2,11-4,22). A RMM também foi maior entre as indígenas, em comparação com as não indígenas para aborto (6.4 vs 2.0 RP 3.25 IC: 1.73-6.10) e causas infecciosas (7.7 vs 2.7 RP 2.84 IC 1.60-5.05).

CONCLUSÃO

A RMM foi maior entre mulheres indígenas em comparação às não-indígenas no Brasil, entre 2017 e 2022. Adolescentes indígenas apresentaram RMM duas vezes maior em relação às não indígenas, apontando para a vulnerabilidade dessa população. Entre as mulheres indígenas, a hemorragia foi a principal causa de MM, diferindo dos padrões gerais da MM do Brasil. Também chama a atenção a MM por aborto entre mulheres indígenas. A identificação de causas e estratos populacionais de risco é o primeiro passo para o delineamento de políticas públicas para o enfrentamento da MM entre mulheres indígenas.

PALAVRAS-CHAVE

mortalidade materna; disparidades em saúde; indígenas

Área

OBSTETRÍCIA - Epidemiologia das doenças gestacionais

Autores

Amanda Dantas Silva, José Paulo Siqueira Guida, Julia Lopes Garrafa, Diama Bhadra Vale, Roxana Knobel, Silvia Maria Santiago, Fernanda Garanhani Surita