61º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia da Febrasgo – CBGO 2023

Dados do Trabalho


TÍTULO

Glioma no pós-parto imediato: relato de caso

CONTEXTO

O manejo dos gliomas revela-se um desafio em pacientes com diagnóstico durante a gestação ou no pós-parto, já que a gravidez pode estar associada à piora clínica nesses casos. Crises epilépticas consistem no principal sintoma da doença. Assim, embora os gliomas não se mostrem frequentes, deve-se considerar o possível diagnóstico diante dessa manifestação clínica.

DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS

S.B.B.H., 35 anos, cesárea prévia sem complicações, portadora de endometriose, sem outras patologias, procura atendimento pré-natal. A gestação decorreu dentro dos parâmetros da normalidade, em uso apenas de polivitamínico. Com 38 semanas e 4 dias de idade gestacional, devido a pródromos de trabalho de parto, foi realizada cirurgia cesariana por opção da paciente, sendo verificado ruptura uterina na istmocele e bolsa não rota protusa, sem intercorrências. Neonato hígido. A paciente apresentou evolução adequada nas primeiras 48 horas de pós-parto, quando subitamente manifestou crises convulsivas, necessitando cuidados em UTI por três dias. Os exames laboratoriais afastaram a hipótese de eclâmpsia ou síndrome HELLP, enquanto a tomografia de crânio revelou massa cerebral em lobo frontal direito. Após estabilização clínica, recebeu alta hospitalar em uso de levetiracetam, sendo recomendada a suspensão do aleitamento materno. No seguimento com equipe de neurologia, foi indicada ressecção tumoral. Os achados imuno-morfológicos evidenciaram astrocitoma anaplásico grau III, IDH1 mutante, com perda de expressão ATRX. Até o presente momento, a paciente manteve controle das crises e se encontra em tratamento oncológico.

COMENTÁRIOS

A precipitação dos achados clínicos dos gliomas durante a gestação pode ser explicada pela retenção hídrica que exacerba o volume peritumoral, tornando o tumor, antes silencioso, sintomático. Ademais, alterações hormonais e aumento de fatores angiogênicos podem influenciar em sua taxa de crescimento. Entre os impactos associados, estão deterioração clínica, desdiferenciação histológica e episódios convulsivos, precipitando emergências obstétricas. Além disso, o tratamento oncológico e o manejo dos sintomas, incluindo o uso de drogas antiepilépticas, pode implicar em riscos para o feto ou recém-nascido. Logo, o manejo dos gliomas na gestação e no pós-parto mostra-se desafiador, com prognóstico reservado, e ainda não existem diretrizes uniformes de tratamento. Conquanto seja um caso raro, esse relato visa alertar sobre a necessidade de diagnóstico diferencial em quadros convulsivos na gestação.

PALAVRAS-CHAVE

Glioma; Período Pós-Parto; Convulsões; Gravidez.

Área

OBSTETRÍCIA - Puerpério normal e patológico

Autores

Luize Costa Soncini, André Luis Bartz Voigt, Anna Beatriz Costa de Oliveira, Luiza Rei Oliveira, Leandro Gugel, Aline de Souza Rosa da Silva, Guilherme Lucas de Oliveira Bicca, Celene Maria Longo da Silva